É bem provável que muitos estariam esperando, neste início do mês de agosto, uma palavra sobre o mês vocacional. Mas, por que este tema? Escolhi discorrer um pouco sobre o significado teológico-litúrgico da páscoa semanal, porque o Domingo faz parte da essência de nossa vocação. É hora de assumirmos o Domingo como dia especial para a nossa salvação e a redenção do mundo.
Com frequência, há quem diga que não importa o dia de participarmos da Celebração Eucarística. Assim, muitas pessoas estão trocando a Missa Dominical, por uma Missa Ferial, porque já não sabem mais o significado do DOMINGO. É verdade, porém, que a Missa, não importa o dia, a hora e o grau de solenidade, é sempre a celebração do Mistério da Páscoa de Jesus, o Mistério da nossa Salvação. Todavia, esquecemos que além do valor própria da Celebração Eucarística, temos um outro valor a ser cultivado: o DOMINGO enquanto dia da Ressurreição, dia de nossa Santificação, dia da Família, do Descanso, da Ação de Graças, do Ser-Igreja, dia do Senhor, enfim, dia da nossa Salvação!
Neste breve texto, vamos discorrer um pouco sobre o significado teológico-litúrgico da páscoa semanal, porque o Domingo faz parte da essência de nossa vocação. É hora de assumirmos o Domingo como dia especial para a nossa salvação e a redenção do mundo.
O primeiro grande sentido do Domingo: nossa Páscoa semanal. Todo Domingo é Páscoa! Desta forma, o Domingo é o dia da VOCAÇÃO À VIDA! Com muita propriedade, a revelação nos mostra o Domingo como o dia da “nova criação”. No Domingo Deus nos recria, nos refaz, nos chama à vida nova!
a) Daí decorre, que o Domingo é o “primeiro dia da semana” (cf. Mt 28,1; Mc 16,2; Lc 24, 1.13; Jo 20, 1.19). Ser o “primeiro dia” recorda o início da criação do mundo. Foi neste dia, “o primeiro”, que Deus deu início à criação.
b) Neste dia, “o primeiro” Deus criou o “sol” (cf. Gn 1, 3-5). Jesus Cristo ressuscitado é o novo “SOL” a iluminar, aquecer e a gerar a vida em plenitude.
O Domingo é o “dia do Senhor” (cf. At 1, 10). O Senhor ressuscitou no “primeiro dia”. Por isso, este dia passou a ser chamado de “dia do Senhor”, que, em latim, é “dies dominica”, em italiano “domenica”, em francês, “dimanche” e em espanhol e português: domingo. A expressão “dia do Senhor” recorda também a expressão veterotestamentária “dia de Javé”. Os profetas usaram esta expressão para significar o dia da vinda, dia terrível, dia da cólera de Deus, dia da vingança do Senhor (cf. Is 34, 8; Lm 1, 12; 2, 1-21; Ez 7, 19; Sf 1, 8; 2, 3). É o dia decisivo do julgamento e da vinda de Deus, que derrota seus inimigos. O Domingo, por causa da ressurreição, é o dia em que o pecado e a morte foram derrotados, ou se quisermos, transformados em graça e vida! O Domingo é o “dia do Senhor”, pois a Ele pertence! Se temporariamente permanecemos sujeitos ao pecado e à morte, esta não é a nossa VOCAÇÃO! Nós pertencemos ao Senhor! Pelo mistério da Páscoa, o pecado e a morte foram julgados e condenados, definitivamente. O futuro não lhes pertence. A palavra final é da Vida! Transformando a morte em vida, Cristo se tornou “o Senhor dos vivos e dos mortos” (Rm 14, 9), ele é o Senhor… (cf. Fl 2, 9-11).
Nos dizeres de São Jerônimo (+ 419), “o domingo é o dia da ressurreição, o dia dos cristãos; é o nosso dia”. Em algumas línguas, este primeiro dia, não é chamado de “domingo”, mas de “dia da ressurreição”. Por exemplo, entre os gregos bizantinos, o domingo é chamado “anastasimós”; em russo, de “vosskresenije”; na língua basca, de “igandea”. Todos estes nomes significam a mesma realidade: “ressurreição”. Assim, o Domingo é verdadeiro “sacramento da Páscoa”.
O Domingo é a Páscoa semanal celebrada na EUCARISTIA e proclamada pela PALAVRA. Em cada Celebração Eucaristia é atualizada a Páscoa de Jesus. A Eucaristia, enquanto Sacramento de Salvação, é a razão de ser do Domingo! Especialmente na Eucaristia, celebra-se a realidade fundamental da Páscoa: morte e ressurreição de Jesus Cristo, morte e ressurreição do batizado, com Cristo. O que a Palavra de Deus anuncia, o gesto sacramental realiza. É Cristo mesmo que nos fala quando são proclamas, na Igreja, as Sagradas Escrituras (cf. SC 7). Domingo é o dia da escuta: o Senhor continua a nos falar mediante a Palavra proclamada, atualizada, acreditada, concretizada e que se faz oração em nossas assembleias litúrgicas dominicais. Como aos discípulos de Emaús, Jesus continua a ser Palavra Viva que nos dá a vida (cf. Lc 24, 1-13).
O Domingo é o dia do SOL.O sol faz-nos lembrar de Jesus. É Ele o sol nascente que nos veio visitar, diz o Cântico de Zacarias (Lc 1, 78). O Profeta Isaías nos diz: “Tua luz de dia já não será o sol, nem te iluminará a claridade da lua; tua luz perpétua será o Senhor e teu Deus era o teu esplendor” (Is 60, 19). Da profecia de Malaquias, ouvimos: “…brilhará o Sol de Justiça nos trará a salvação” (Ml 3, 20). O sol nascente nos faz lembrar Jesus levantando-se da sepultura, nos lembra a ressurreição: “Passado o sábado, ao despontar a aurora do primeiro dia da semana… O anjo disse às mulheres: Não temais. Sei que buscais a Jesus, o crucificado. Não está aqui; ressuscitou como havia dito” (cf. Mt 28, 1.5-6). Por coincidência, no sistema romano de organização da semana, cada dia tinha o nome de um planeta (na época se conhecia apenas cinco), junto com a lua e o sol. Dia da Lua (segunda-feira); dia de Marte (terça-feira); dia de Mercúrio (quarta-feira); dia de Júpiter (quinta-feira); dia de Vênus (sexta-feira), dia de Saturno (sábado) e dia do Sol. Assim, para os romanos, o “primeiro dia da semana” era o dia do Sol. Por isso, tem profundo sentindo o nome que, por exemplo, os povos de língua alemã e os de língua inglesa dão ao domingo: “Sonntang”, em alemão (sonn = dia + tag = dia); “Sunday”, em inglês (Sun = sol + day = dia). O Domingo, dia do Senhor, é o dia do Sol Verdadeiro – Jesus Cristo Ressuscitado – que desfez as trevas do pecado e da morte, dando-nos a graça da Salvação.
Muito ainda deveríamos falar… O Domingo é o dia sagrado do repouso semanal, dia de festa e alegria, dia da solidariedade, dia da paz, dia de comunhão com a natureza, dia da família, dia de encontro, dia da boa-nova, dia da evangelização, dia da partilha, dia de ser Igreja, dia da Assembleia Cristã, dia de louvor e gratidão, dia do Espírito Santo – pentecostes semanal, o “oitavo dia” (cf. Jo 20, 26), isto é, o dia da eternidade, o dia da esperança, o dia que não tem fim. A eternidade da vida – a SALVAÇÃO – está no Domingo: eis a nossa vocação!
Pe. Tarcísio Pedro Vieira
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Glória – Balneário
Coordenador da Comissão Arquidiocesana de Liturgia
Professor do Instituto Teológico de Santa Catarina
Vigário Judicial