Mons. Valentim Loch

Nascido em São Ludgero, em 10 de outubro de 1921, ainda na infância perdeu o pai, Joaquim Loch. Ingressou no Seminário de Azambuja em 1933. lá teve o apoio do tio Pe. Bernardo Peters. Sendo filho único e perdido o pai alguns anos antes, a sua mãe Clara Peters Loch foi residir no Asilo de Azambuja, com seu trabalho custeando os estudos do filho. Quis Deus que ela morresse antes dos 40 anos.

E assim Valentim Loch viveu privado de pais, irmãos, sobrinhos, solidão ocupada pela dedicação integral à vocação presbiteral. Entre 1939-1945 estudou Filosofia e Teologia com os Jesuítas de São Leopoldo, RS, e foi ordenado presbítero no Santuário de Azambuja em 8 de dezembro de 1945.

Dedicou 45 anos de seu ministério à formação presbiteral. Em 1946 foi nomeado professor e prefeito de disciplina em Azambuja; em 1950, professor e diretor espiritual; em 1959, quarto reitor do Seminário, com a eleição de Mons. Afonso Niehues a bispo coadjutor de Lages. Continuando a obra do antecessor, levou a instituição a seu mais brilhante período de formação intelectual.

Num período difícil para a vida do Instituto Teológico de Santa Catarina-ITESC, marcado pela insatisfação geral, apatia, em 1983 foi nomeado Reitor, como última reserva moral do clero para o cargo. Após um ano percebeu que seus valores disciplinares eram outros e não podia banhá-los na bacia da transigência. Deixou o trabalho sem mágoas, sem comentários.
Com a morte repentina de Mons. Frederico Hobold, em 1970, Pe. Valentim foi para Florianópolis, com a missão de Vigário Geral (1970-1986) e Coordenador de Pastoral (1970-1977). Não tinha sido pároco, mas seu trabalho silencioso, organizado, unido ao respeito que despertava no Presbitério facilitaram-lhe a missão acrescida, em 1971: primeiro Diretor da Escola Diaconal São Francisco de Assis, ocasião em que fez crescer em profundidade e número o diaconato permanente.

De 1978 a 1982 foi Subsecretário do Regional Sul-IV da CNBB, enfrentando as inúmeras reuniões e viagens pelo território catarinense. Vivenciando a eclesiologia da Comunhão e Participação, evitou tanto o democratismo assembleísta como o autoritarismo. Certamente sofria com certas teses pastorais, mas acatava as decisões da maioria. Nesses compromissos de coordenação pastoral teve sempre a seu lado religiosas competentes, valorizando e respeitando a sensibilidade feminina. Teve ocasião de praticar experiências pastorais assumindo por três anos a Paróquia de Nossa Senhora da Glória, no Balneário do Estreito (1984-1986). Sua preocupação: formar líderes e equipes para crescer na comunhão eclesial.

De volta a Azambuja

Aos 66 anos de idade, em 1987 iniciou um novo período ministerial, novamente no Seminário de Azambuja. Foi professor e Assistente dos Estudantes de Filosofia. A partir de 1991 acumulou as funções de professor, Vice-Reitor, Vigário Geral para a região norte e Defensor do Vínculo do Tribunal Eclesiástico de SC. A comunidade e os doentes de Azambuja estimavam a figura já histórica do “Monsenhor”.

Em 2004 o mal de Alzheimer começou a dar sinais. No ano seguinte já era perceptível o estrago físico operado pela doença: atacou a Pe. Valentim naquilo que tinha de mais precioso: a memória, a inteligência. Foi com tristeza que em 2006 se percebia seu alheamento da realidade. Sempre compassivo com os sofredores, encontrou a mesma compaixão na equipe do Seminário. E Deus foi muito bondoso, chamando-o a si em 2 de junho de 2006, primeira sexta-feira do mês. No dia seguinte, véspera de Pentecostes, acompanhado de muitos presbíteros e diáconos e de emocionado povo, seu corpo foi depositado ao lado do túmulo de sua mãe, no Jardim da Paz em Azambuja.

Presidindo a Liturgia exequial no Santuário, no momento da homilia, Dom Murilo Krieger, arcebispo metropolitano, acentuou dois aspectos da vida de Pe. Valentim: dele, tudo o que se dissesse seria pouco, e tudo também excessivo. Pe. Valentim era tão discreto, nobre, claro, sucinto, que qualquer ponto a mais ou a menos desequilibraria a narração de sua vida, tecida no equilíbrio que a fidelidade amadurecida produz num ideal. Em segundo lugar, a vida de Pe. Valentim foi uma busca contínua e consciente da santidade: desde os tempos de seminário queria ser santo, confidenciou aos estudantes do ITESC por ocasião de seu áureo jubileu presbiteral em 1995.

Homem do silêncio, levava a sério a palavra: homilias breves, claras, objetivas, sempre preparadas, num estilo escorreito, belo, palavras e frases encadeadas harmoniosamente. Desde os tempos de Seminário tinha no “combate à moleza” a grande bandeira pedagógica. Foi seu programa pessoal na busca da santidade. Sua espiritualidade foi muito simples: a Missa e o Terço diários, o Ofício divino e a oração contínua e silenciosa. Um Padre cuja imagem está impressa na memória e na retina de quem aprendeu a conhecê-lo e amá-lo.

Pe. José Artulino Besen*
http://pebesen.wordpress.com/

*O Autor, Pe. José Artulino Besen é historiador eclesiástico, professor de História da Igreja no Instituto Teológico de Santa Catarina – ITESC desde 1975 e pároco na paróquia Nossa Senhora Aparecida, Procasa, São José(SC).

 

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