Pe. Tarcísio Pedro Vieira,
Professor do ITESC
O local onde a comunidade cristã se reúne…
é singular imagem da Igreja, templo de Deus edificado por pedras vivas
(Ritual de Dedicação de Igreja e de Altar: Decretum, Prot. ¹ CD 300/77)
Por sua morte e ressurreição, Cristo tornou-se o verdadeiro e perfeito templo da Nova Aliança (cf. Jo 2, 21) e reuniu o povo adquirido. Esse povo, reunido pela Trindade Santa, é a Igreja ou templo de Deus, construído de pedras vivas, onde o Pai é adorado em espírito e verdade (cf. Jo 4, 23). Assim, com muita razão, desde a antiguidade deu-se o nome de “igreja” também ao edifício no qual a comunidade cristã se reúne, a fim de ouvir a Palavra de Deus, rezar em comum, participar dos Sacramentos, celebrar a Eucaristia.
A Igreja, Povo de Deus, é o Corpo Místico de Cristo: “Nós somos muitos e formamos um só corpo em Cristo, sendo membros uns dos outros” (Rm 12, 5). Verdadeiramente, para nós cristãos, o “templo” é o “Corpo de Cristo”, que se estende, misticamente, no corpo da Igreja. Por isso, a Igreja é “Edifício de Deus” (1Cor 3, 9), “Templo de Deus” (1Cor 2, 15), “Santuário Santo do Senhor” (Ef 2, 21). Somos Igreja, “edificados sobre o verdadeiro fundamento dos apóstolos… sendo Cristo Jesus mesmo a pedra angular” (Ef 2, 20). Ao mesmo tempo, o Povo-Igreja é chamado de “Esposa do Cristo”, a sua “Amada”.
Assim, no espaço celebrativo, reúnem-se o Cristo e a sua Amada para as núpcias. Cada encontro é um esponsal, é um encontro de vida, de amor… Na liturgia celebra-se o Mistério Pascal de Jesus. A Jerusalém Celeste (cf. Ap 21,9-11) desce e, o lugar sagrado, nos leva a experimentar o “Céu”; tudo deve nos conduzir ao Mistério de Deus. Neste lugar sagrado, o Mistério se revela, vem até nós, fala uma só língua, une a todos… O Senhor Ressuscitado, através dos sagrados mistérios, quer permanecer conosco! Ser Igreja é ser “congregação”, “assembléia”, “corpo”… Reunidos, pela força do Espírito Santo, somos Igreja, acolhemos a graça de Deus e antegozamos o paraíso, a Jerusalém Celeste.
O espaço celebrativo cristão é, assim, o espaço para viver o mistério da salvação (a Páscoa de Jesus); espaço para o encontro de irmãos e irmãs; espaço da Palavra que se encarna e da Eucaristia que nos alimenta e salva; lugar de reconciliação e da profecia; lugar da vida nova e do amor; lugar da cruz e da ressurreição; lugar de adoração e louvor; lugar do compromisso e da partilha; lugar da festa e do silêncio; lugar do repouso e da ação salvífica; lugar da presença do “invisível”, a “tenda de Deus Conosco” (Ap 21, 3); lugar da tensão e da vigilância para com a criação e a redenção da vida; lugar da transfiguração e espaço do mistério que nos envolve e transforma.
Por ser um edifício visível, esta casa aparece como sinal peculiar da Igreja peregrina na terra, e imagem da Igreja habitante nos céus. Convém, pois, que, ao se erigir um edifício única e estavelmente destinado à reunião do povo de Deus e à celebração das ações sagradas, seja esta igreja dedicada ao Senhor em rito solene, segundo antiqüíssimo costume.
Dedicar significa destinar, atribuir, oferecer, inaugurar… As pessoas se consagram a Deus, ao passo que os lugares são dedicados a Deus. No mundo bíblico, com freqüência, faz-se referência à dedicação de estelas (Gn 28,18), de altares (Nm 7,10-11.84.88), de casas (Dt 20, 5), do templo do Senhor (1Rs 8, 1-66, Esd 6, 15-18)… Pela dedicação, que é obrigatória principalmente para as igrejas catedrais e paroquiais (cf. Cân. 1217, §2), o lugar se destina perpétua e permanentemente ao culto divino.
RITO DE DEDICAÇÃO DA IGREJA: RITOS INICIAIS: Entrada na igreja (entrega da igreja ao Bispo; abertura da porta pelo Pároco ou Reitor da igreja; procissão). Bênção da água e aspersão. Hino do Glória. Oração (Coleta). LITURGIA DA PALAVRA: Rito especial para a proclamação da Palavra de Deus. Proclamação dos textos bíblicos (omite-se a Oração Universal). PRECE DE DEDICAÇÃO: Ladainha. Deposição das relíquias sob o altar (se houver). Prece de Dedicação. Unção do altar e das paredes da igreja (unção das 12 cruzes ou, pelo menos, de 4 cruzes, significando que a igreja é a imagem da Jerusalém, a cidade santa). Incensação do altar e da igreja. Iluminação do altar e da igreja. LITURGIA EUCARISTICA: Após a comunhão: Inauguração da Capela do Santíssimo Sacramento. RITOS FINAIS: Bênção e despedida. Para a dedicação de igreja onde já se costuma celebrar a Santa Missa, omitem-se normalmente os seguintes ritos: abertura da porta da igreja, o rito de entrega da igreja ao Bispo, o rito de aspergir com água benta as paredes da igreja e as cerimônias peculiares à primeira proclamação da palavra de Deus.
Em toda celebração litúrgica, a comunidade local se constitui e se manifesta como “ecclesia”. A própria liturgia da dedicação de uma igreja proporciona à assembléia celebrante uma ocasião singular para afirmar sua própria identidade como comunidade de fé em Cristo e para refletir sobre a natureza e o conteúdo de seu culto.
Por fim, de tudo o que foi dito, o edifício-igreja e suas disposições internas devem influir fortemente na compreensão da natureza da própria Igreja. Na compreensão dos princípios teológico-litúrgicos e técnicos, será possível tornar o espaço celebrativo não só um lugar bonito e digno, mas também liturgicamente correto e apropriado, que favoreça o encontro entre as pessoas e com Deus, sinal sensível do mistério que aí se celebra. Destacam-se, assim, para além dos princípios técnicos, os princípios da eclesiologia, da teologia litúrgica e da arte sacra, como expressão concreta de uma mística própria do lugar sagrado, do lugar do culto cristão.