Participantes refletiram sobre as mudanças climáticas que afetam a vida do homem
Mais de oito mil pessoas estiveram reunidas no dia 11 de setembro para participar da 22ª Romaria da Terra e da Água. Realizada no Sítio Histórico do Contestado, em Irani, pertencente a Diocese de Joaçaba, o evento contou com caravanas das dez dioceses do Estado. A Arquidiocese esteve representada por uma caravana de Biguaçu. Duas outras caravanas, de Florianópolis e Brusque, foram canceladas por conta das chuvas.
A Romaria teve como tema “Mudanças Climáticas”, e lema “Deus criou… tudo era muito bom”, seguindo a tradição de abordar temas que ameaçam a vida na terra e de quem nela vive e trabalha. O evento também denunciou o modelo produtivo que impõe severos danos à natureza e apresentou alternativas. Algumas delas foram expostas em tendas.
A mobilização teve início às 9h em frente ao Monumento do Contestado. Depois seguiu alguns quilômetros em peregrinação até onde os romeiros ficaram concentrados. A caminhada foi acompanhada por carro de som e os romeiros trouxeram a cruz de cedro se revezando no seu translado.
A Romaria condenou a “sociedade capitalista que visa lucro acima de tudo, dá valor apenas àquilo que produz mais riqueza”. O novo código florestal também foi criticado. Além disso, a Guerra do Contestado foi ressaltada. No local aconteceu a primeira batalha do conflito que envolveu cerca de 20 mil camponeses contra forças militares federais e estaduais numa luta que aconteceu entre 1912 e 1916.
Na época, os caboclos foram expulsos e as árvores derrubadas para a exportação da madeira para os Estados Unidos da América. Com a resistência dos camponeses, a guerra teve início. Padre Roque Favarin, responsável pela Cáritas em Santa Catarina e um dos coordenadores da Romaria, explicou a importância deste fato histórico para a questão ambiental.
“A Romaria da Terra resgata a luta do Contestado, hoje representada na luta do povo, na celebração da vida e na esperança de que a terra poderá ser mais bem cuidada e não destruída por outros projetos de desenvolvimento com características mais modernas, mas, que continuam explorando a vida e destruindo a natureza”, disse.
A romaria propôs, na prática, outro modelo econômico. Toda a alimentação foi partilhada gratuitamente em tendas montadas por organizadores e parceiros, entre elas pastorais sociais da Igreja e movimentos campesinos. Também foi proibido o comércio de água, distribuída gratuitamente.
As tendas também apresentaram projetos de economia solidária, produção agroecológica e de cooperativas. Pesquisas universitárias, mobilizações por políticas públicas em defesa da reforma agrária, da agricultura familiar e da juventude foram algumas outras experiências partilhadas.
Celebração
Dom Wilson Tadeu Jönck, presidente da CNBB – Regional Sul 4, presidiu a celebração de encerramento da romaria. Na homilia, ele defendeu atitudes que transformem o mundo e preservem a natureza. “Nós podemos formar um mundo diferente. Um mundo onde possamos dizer: aqui é muito bom. Este é o mundo que queremos realmente produzir e iniciativas já existem neste sentido”, informou.
Como exemplo disso, dom Wilson lembrou a partilha do alimento, onde tudo estava disponível gratuitamente. “Qualquer um poderia pensar que uma multidão como essa poderia render um bom dinheiro. Mas não é dessa forma que queremos pensar. Queremos fazer uma romaria, queremos refletir, queremos rezar. E é isso que estamos fazendo”, acrescentou.
Depois da celebração, os romeiros voltaram ao ponto inicial para acompanhar o plantio da cruz de cedro, um dos símbolos das Romarias da Terra e da água em Santa Catarina. Neste momento, foram relembrados assuntos já tratados durante o dia e os romeiros foram convidados a testemunhar em favor da Criação de Deus opondo-se a devastação ambiental.
Como é tradicional, a madeira da cruz de cedro é cortada nas vésperas do evento e, como sempre acontece, ela está verde, viva, vai brotar e se tornar uma árvore.