Vindos das Comunidades Eclesiais de Base das Dioceses de Santa Catarina, celebramos o 11º Encontro Estadual das CEBs, com a participação de aproximadamente 800 delegados e delegadas. Assumimos logo de início, o que nos caracteriza: a profunda relação entre a missão das CEBs e a missão de Jesus de Nazaré.
Considerando que o 11º Encontro realizou-se em Florianópolis, e recordando a missão de Jesus ao redor do Lago de Genesaré, dispusemos nossas atividades em três momentos: o mar, o rancho e o barco.
O mar, lugar de onde Jesus pregava às multidões que se comprimiam para ouvi-lo, foi para nós o espaço da grande reunião, da acolhida inicial, da celebração de abertura em frente à Catedral, da confraternização, das decisões, do envio, e do início da celebração final com a Romaria dos Mártires para o Alto da Caieira. No mar, foi-nos apresentado, pelo assessor Pe. Benedito Ferraro, o tema central do encontro: “Justiça e profecia a serviço da vida”. Ele lembrou que o Documento de Aparecida ensina que a misericórdia será sempre necessária, mas também que precisamos lutar para que todos possam viver com dignidade a vida em plenitude. É fundamental juntar evangelização e libertação, para reaprender a fazer política. Nós, que bebemos da vida e da missão de Jesus de Nazaré, precisamos estar enraizados nas lutas de nossos povos, levando adiante as CEBs que surgiram no continente latino-americano para o mundo. Nossa missão é ser profeta no chão de nossas comunidades.
Os ranchos, lugar onde os pescadores guardam seus barcos e instrumentos de pesca, foram para nós o espaço para conversas e refeições, para o debate sobre a missão de Jesus e dos compromissos a assumir no seu seguimento. Numa grande comunidade de seguidores e seguidoras de Jesus, percorremos os cenários da Palestina: a Galileia, a Samaria, o Deserto e Jerusalém.
A Galileia era o lugar onde moravam os mais pobres, destinatários privilegiados do anúncio do Reino de Deus. Aí Jesus viveu a maior parte de sua vida, anunciou a Boa Notícia do Reino e, após a ressurreição, enviou os discípulos e discípulas em missão. A Galileia é, hoje, o lugar das Comunidades Eclesiais de Base e de toda a Igreja que se inclina para o cuidado da vida das pessoas empobrecidas.
A Samaria ficava no caminho entre Galileia e Jerusalém. Era o lugar de gente considerada impura e herética. Ao falar a sós com uma samaritana, Jesus rompe de uma só vez com dois preconceitos: o de gênero, que proibia a um homem falar sozinho com qualquer mulher, e o nacional-racista, que inimizava israelitas e samaritanos. A Samaria, hoje, é o lugar de travessia, onde somos chamados a romper o círculo vicioso de exclusão social, anunciando o Deus de Amor e o Reino de igualdade.
O Deserto é o lugar da escuta amorosa e obediente da Palavra, do contato íntimo e do diálogo com Deus. Hoje, diante de tantas espiritualidades, somos chamados a voltar ao deserto, ao Deus do êxodo que se revela em Jesus Cristo e que nos interpela e nos convoca para a missão.
Jerusalém era o centro dos mecanismos do poder religioso, econômico e político, que levaram Jesus à morte. Se existem ainda hoje situações de exclusão, é porque a política não é exercida como arte do serviço ao bem comum. A ganância a qualquer custo justifica o massacre de milhões de pobres. A religião dominante é aquela que professa o “deus capital”, apregoa a resignação e difunde a espiritualidade da prosperidade em detrimento de um estilo de vida mais sóbrio que torne possível a justa distribuição das riquezas. Aqui vem a parte mais difícil da missão: o confronto. Mas não há verdadeira missão a serviço do Reino, sem confronto com tudo aquilo que vai contra a proposta de Jesus de Nazaré.
Da Galileia dos sonhos de um mundo novo para a Jerusalém da perseguição e do martírio, passando pela Samaria da aprendizagem e da ruptura de preconceitos e pelo Deserto da intimidade com Deus, nós também queremos em nossas comunidades viver a mesma missão de Jesus.
Os barcos, meios que levam os pescadores para dentro do mar para a lida diária da pesca, foram para nós o espaço dos debates sobre nossa missão no seguimento de Jesus. Neles partilhamos nossas vidas, o que somos e temos, o que podemos, sabemos e esperamos.
No final do encontro, como Comunidades Eclesiais de Base e Grupos de Reflexão/Família, assumimos os seguintes compromissos:
• Dinamizar o processo permanente de conversão, para fortalecer o trabalho em redes (públicas, privadas e religiosas), na busca dos direitos de todos para que haja vida plena.
• Resgatar e fortalecer, na realidade atual, nossa identidade como CEBs, na defesa e promoção da vida, com olhar atento à juventude e suas especificidades.
• Assumir nas Comunidades Eclesiais de Base ampla discussão e formação aprofundada no que se refere à intolerância religiosa e a todo tipo de preconceito.
• Assumir e fortificar a articulação das Pastorais Sociais nas dioceses.
• Apresentar na Assembleia do Regional Sul 4 da CNBB uma síntese de toda a reflexão deste Encontro, para resgatar a memória das CEBs em nossas Dioceses.
É tempo de primavera. Em nosso encontro fizemos memória dos 50 anos do Concílio Vaticano II, verdadeira primavera da Igreja, e dos 100 anos do Contestado. Voltamos para nossas comunidades com os corações aquecidos pela profecia de Jeremias. “Deus disse: ‘O que estás vendo?’ Jeremias respondeu: ‘Um ramo de amendoeira brotando’. E Deus respondeu: ‘Viste bem. Assim eu estou cuidando do meu povo para que esta palavra possa acontecer’” (Jer 1,11-12).