“Mulher, nem eu te condeno.
Vai e não tornes a pecar!”
(Mt 8,1-11)
Era uma prostituta. Tinha perdido o sentido da dignidade e vendia o corpo por prazer e por dinheiro. Alguns a desprezavam publicamente e, em particular, a contratavam para o prazer. Outros a desprezavam como imprestável, escândalo para as pessoas de bem.
Num dia foi denunciada. A lei judaica era muito clara: toda prostituta pega em flagrante de adultério deve ser apedrejada. E lá estava a pobre mulher, tão pobre que não era dona nem do próprio corpo, esperando as pedras que a matariam e a cobririam como sepultura.
Jesus passa por perto. Vê a aglomeração, o entusiasmo dos que teriam o prazer de vê-la morrer. O que aconteceu?, pergunta o Mestre. Esta mulher foi pega em adultério e deve morrer!, respondem os circunstantes.
Jesus contempla os olhos dela. Sente a humilhação daquela desprezada agora, mas antes solicitada para o prazer. Jesus não poderia ir contra a Lei, mas lei maior era salvar a vida e a dignidade daquela mulher.
Sem nada dizer, se agacha ao lado dela. Um gesto pleno de significado: se Jesus ficasse em pé, a contemplaria do alto, com autoridade. Ela teria que olhar para o alto e se sentiria humilhada, pequena, mais condenada ainda. Mas não: o Mestre está junto dela, tinha-se abaixado. Somente quem desce até o que errou pode fazê-lo reerguer-se. Não se recupera alguém olhando-o com desprezo. Se olhamos os infelizes do alto de nossa felicidade, aumentaremos ainda mais sua infelicidade. Quando nos rebaixamos, não nos ergueremos sozinhos: alguém se erguerá conosco.
Para aumentar a curiosidade de todos, Jesus começa a escrever no chão, como quem não está preocupado com os acusadores. Depois ordena: “Quem não tiver pecado, atire-lhe a primeira pedra!”. Tocados pela recordação de seus erros, eles se retiram envergonhados, a começar pelos mais velhos, conforme está no Evangelho.
Todos se foram. Permaneceram Jesus e a mulher. Olhando-a com afeto, uma pergunta animadora:Mulher, ninguém te condenou?. Ninguém, Senhor!, responde a pecadora que começava a crer em si. Não estava sozinha no erro, sozinha não precisaria pagar pelos erros. Houve uma chance para os outros, haveria também para ela. Mas, permaneceu nela um receio: estava ali o Mestre, que ainda não se tinha pronunciado. Não atiraria ele a primeira pedra!?
Cheio de amor, Jesus a consola: Eu também não te condeno! Vai em paz! Não tornes a pecar! Os dois se erguem: ela renovada pelo perdão, ele tendo diante de si uma criatura renovada. Quando a bondade desce até a maldade, a maldade cede lugar à bondade.
E seguiram caminho. Não existia mais a adúltera. Agora caminhava uma mulher que acreditava em si, que recomeçava a vida. O perdão tinha destruído o que a impedia de viver. Ela conheceu um homem que era senhor, mas Senhor que manifesta o poder sendo misericórdia.
Pe. José Artulino Besen