Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Administrador Apostólico de Florianópolis e
Arcebispo eleito de São Salvador da Bahia
“Dom Murilo assume a Arquidiocese em abril”. Com essa manchete, o Jornal da Arquidiocese de Florianópolis, de março de 2002, anunciava minha nomeação para esta Arquidiocese, feita pelo Papa João Paulo II, dia 20 de fevereiro daquele mesmo ano. “Dom Murilo assume a Arquidiocese”, era a manchete de maio, reproduzindo palavras e fotos de minha posse, dia 27 de abril de 2002. “Irmãos, o que devemos fazer?”, era o título de meu primeiro artigo neste mesmo jornal. Com essa mesma interrogação eu havia iniciado minha homilia, na manhã daquele dia 27, no Ginásio de Esportes do Colégio Catarinense. Esta pergunta, na verdade, não era minha, mas dos contemporâneos do apóstolo Pedro, no dia de Pentecostes, depois de ouvir que “Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes” (At 2,36). Se Jesus Cristo é o Senhor, pensaram eles, o que é preciso fazer? Respondendo a essa pergunta, eu testemunhava que aqui chegava para fazer a experiência do apóstolo e evangelista São João, resumida de forma admirável em uma expressão que se tornou clássica, e que eu havia assumido como lema episcopal: “Deus é amor” (1Jo 4,16).
Naquela ocasião, era muito lembrada a observação do então Papa a respeito dos desafios do terceiro milênio da era cristã: qualquer programa pastoral da Igreja deveria destacar, como primeiro item, a busca da santidade. De minha parte, lembrava, como que lançando um “programa de governo”: “O ideal de santidade, preconizado por Jesus, não é uma utopia. A santidade é possível. A santidade é nossa meta”.
Passados quase nove anos, vejo-me diante de um novo desafio: deixar minha Arquidiocese – “minha”, porque aqui nasci -, deixar meus parentes e amigos, deixar uma realidade conhecida e desafios com os quais me acostumara, para enfrentar uma nova missão na Igreja. Dou este passo com “temor e tremor”, para usar uma expressão do apóstolo Paulo (cf. Fl 2,12). Meu temor se deve aos desafios daquela que é a Arquidiocese Primaz do Brasil, com uma população de três milhões e trezentos mil habitantes e uma rica história de 460 anos; o tremor nasce da consciência de minhas próprias limitações. Faço essa confissão – aliás, desnecessária, porque sou conhecido – na esperança de ser acompanhado pela oração de cada “ovelhinha”da Arquidiocese de Florianópolis.
“Irmãos, o que devemos fazer?” Ao ler o início da carta do Senhor Núncio Apostólico: “O Santo Padre Bento XVI nomeou Vossa Excelência Arcebispo Metropolitano de São Salvador da Bahia…”, não tinha outra resposta a dar ao Papa se não o meu “sim”. E o dei, lembrado das insistentes perguntas que Jesus fizera ao apóstolo Pedro: “Tu me amas?” (Jo 21,17).
“Deus é amor”. De mil maneiras procurei repetir essa certeza – certeza que enche meu coração de esperança. Perdão, irmãos e irmãs, pois nem sempre soube fazê-lo de forma acertada. Com o apóstolo Paulo, peço a todos: “Alegrai-vos, trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, tende um mesmo sentir e pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco” (2Cor 13,11).